7 de outubro de 2021
CPI: médico relata política de ‘coerção’ na Prevent e diz que foi alvo de ameaça após denúncias
Ao ouvir depoimento de Walter Correa, CPI reproduziu áudio de conversa telefônica entre médico e diretor da Prevent. Quando áudio foi revelado, operadora negou ter havido ameaça.
Por: Marcela Mattos, Filipe Matoso, Vitor Matos e Beatriz Borges, G1 — Brasília
O médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da Prevent Senior, afirmou nesta quinta-feira (7) em depoimento à CPI da Covid que havia política de “coerção” na empresa e que recebeu ameaça após ter feito denúncias contra a operadora.
Souza Neto prestou depoimento ao lado de Tadeu Frederico de Andrade, paciente da Prevent. Os dois foram chamados a falar sobre as denúncias de que a operadora testou e disseminou remédios ineficazes em pacientes com Covid.
Durante o depoimento, foi exibido o áudio de uma conversa telefônica entre Souza Neto e Pedro Benedito Batista Junior, diretor-executivo da Prevent. Na gravação, o diretor diz, entre outras coisas, que o médico deveria “voltar atrás” e dizer para a imprensa que, quando fez as denúncias, passava por “um mal momento”. “Você tem muito a perder, velho. É sua vida, é sua família, cara, que vai ser exposta”, afirma o diretor no áudio, acrescentando que não era ameaça, mas, sim um “conselho”.
Após a exibição do áudio, o médico afirmou à CPI: “O Pedro tentou minimizar essas ameaças aqui, tentou dizer ‘Ah, nós somos sócios’. Nós temos uma Pessoa Jurídica para receber da Prevent Senior, que é uma exigência da Prevent Senior. E, infelizmente, eu tive essa Pessoa Jurídica com ele, nós recebíamos juntos por essa PJ. Então, não era uma empresa, nós não temos negócios juntos. Nunca fomos amigos. E ainda que a gente tivesse negócio, que fosse amigo, isso é uma ameaça, independentemente disso.”
“E é uma tentativa de intimidação, uma tentativa de me silenciar. ‘Você fica quieto, não fala com a imprensa, fala que isso é mentira’. E eles continuam fazendo isso até hoje”, acrescentou o médico aos senadores.
Em nota divulgada quando o áudio foi revelado, a operadora negou ter feito ameaças e disse que o médico “foi alertado que, após invadir e divulgar o prontuário de um paciente, seria levado à investigação pelo Conselho Regional de Medicina, o que, de fato, aconteceu, por infração à ética e à legislação.”
No texto, a Prevent afirmou ainda que Pedro e o profissional eram amigos e sócios. “Por isso, Pedro alertou que a conduta ilegal exporia ele a um risco de punição no CRM.”
Em nova nota, divulgada nesta quinta, a Prevent afirmou que o depoimento “não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas” (leia íntegra mais abaixo).
Uso de drogas ineficazes
Ainda no depoimento à CPI, o médico disse que os profissionais não tinham autonomia e que era obrigatório prescrever drogas ineficazes contra a Covid.
“Quando foi exatamente que a Prevent definiu que iria adotar a hidroxicloroquina como tratamento, como rotina de seus tratamentos?”, indagou nesta quinta o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.
“Não me lembro exatamente se foi no final de março do ano passado ou começo de abril. Mas eles instituíram um protocolo institucional e daí iniciou a determinação para que a gente prescrevesse essa medicação. Pouco depois, os kits com a medicação começaram a ser disponibilizados, colocados no consultório”, respondeu o médico.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), então, questionou: “A pergunta é: era obrigatório?”.
“Sim, era obrigatório”, respondeu o médico.
“Havia autonomia do médico?”, questionou em seguida Rogério Carvalho.
“Não. Definitivamente, não”, respondeu.
Walter Correa era plantonista do pronto-socorro da Prevent e foi demitido em fevereiro deste ano. Ele trabalhou na operadora por oito anos.
Íntegra
Leia a íntegra da nota da Prevent Senior:
O depoimento do médico Walter Correa Neto não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas. Mais uma vez, a Prevent Senior nega e repudia as acusações infundadas levadas à CPI da Covid e à imprensa com base em mensagens editadas, truncadas ou tiradas de contexto. O médico faz parte de um grupo que tentou firmar acordos milionários com a operadora para que a advogada Bruna Morato não levasse as acusações à CPI.
A denúncia mais grave é sugerir que os médicos da empresa optem pela adoção de cuidados paliativos para matar pacientes e economizar recursos, o que tanto os médicos quanto a direção da empresa veementemente contestam.
A Prevent defende e vai colaborar para que órgãos técnicos, como o Ministério Público, investiguem todas estas acusações para restabelecer a verdade dos fatos. Lamentavelmente, aos moldes do que aconteceu nos piores tempos da Operação Lava Jato, atacou-se a reputação da empresa antes do esclarecimento de todos os fatos.