16 de abril de 2021
Maior produtor mundial de vacinas pede a Biden que encerre embargo de matérias-primas
Instituto Serum, da Índia, tem acordo para fornecer vacinas contra a Covid-19 para a Covax, coalizão de mais de 150 países liderada pela OMS. Empresa fabrica o imunizante de Oxford.
Por: Lucas Sampaio, G1
O chefe da maior fabricante de vacinas do mundo pediu nesta sexta-feira (16) ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que suspenda a proibição de exportação de matérias-primas para conseguir fazer mais vacinas contra a Covid-19.
“Respeitável presidente dos EUA, se quisermos realmente nos unir para vencer este vírus, em nome da indústria de vacinas fora dos EUA, eu humildemente solicito que levantem o embargo às exportações de matéria-prima para que a produção de vacinas possa aumentar”, afirmou Adar Poonawalla.
Poonawalla é presidente-executivo e dono do Instituto Serum, da Índia. A empresa tem um acordo para fornecer 1,1 bilhão de doses para a Covax, coalizão de mais de 150 países liderada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para adquirir e distribuir vacinas contra a Covid-19 a países pobres.
O pedido incomum do CEO do Instituto Serum, feito em um rede social e marcando a conta oficial da presidência dos EUA, ainda não foi respondido por Biden.
Maior produtora de vacinas do mundo em volume, o Instituto Serum fabrica a vacina de Oxford/AstraZeneca que é exportada para outros países além do Reino Unido e da Europa (o Brasil adquiriu 2 milhões de doses do imunizante em janeiro) e também a Novavax.
Poonawalla havia dito anteriormente à agência de notícias Associated Press que não contar com fornecedores americanos poderia resultar em um atraso de até seis meses na produção da Novavax.
specialistas temem que o uso da Lei de Produção de Defesa pelos EUA, para impulsionar a produção de vacinas no país, esteja resultando na interrupção das exportações de matérias-primas consideradas críticas — o que está prejudicando a produção de vacinas em outras partes do mundo.
Stéphane Bancel, diretor-executivo da farmacêutica americana Moderna, disse na terça-feira (13) em um evento online que os embargos à exportação também estavam impedindo os fabricantes americanos de vacinas a exportar vacinas, resultando em escassez.
Ajuda de R$ 2,2 bilhões
A fabricante indiana tem lutado para atender à demanda mundial por vacina depois que o governo indiano freou a exportação dos imunizantes para privilegiar a sua própria campanha de vacinação.
Na semana passada, Poonawalla pediu ao governo indiano um financiamento adicional de 30 bilhões de rupias (US$ 408 milhões ou R$ 2,2 bilhões) para aumentar sua capacidade de produção. “O mundo precisa desta vacina e neste momento estamos dando prioridade às necessidades da Índia”.
O CEO da empresa disse que, sem o dinheiro das vacinas exportadas, estava enfrentando dificuldades para aumentar a capacidade de produção. Em fevereiro, ele já havia pedido que o mundo tivesse “paciência” com o envio das vacinas.
“O Instituto Serum foi convocado a dar prioridade às enormes necessidades da Índia e a encontrar um equilíbrio com as necessidades do resto do mundo. Fazemos o possível”, escreveu Poonawalla na ocasião em suas redes sociais.
Vacinação na Índia
O país de 1,3 bilhão de habitantes enfrenta uma feroz segunda onda de Covid-19, com mais de 200 mil casos confirmados por dia, e passou o Brasil como a segunda nação com mais infectados do mundo, depois dos EUA.
A Índia é o segundo país do mundo, também depois dos EUA, a superar a trágica marca de 200 mil casos em um único dia. Nesta sexta-feira (16), registrou um novo recorde diário: mais de 217 mil infectados.
A Índia é o terceiro país que mais aplicou doses até o momento (117 milhões), atrás apenas de EUA (198 milhões) e China (183 milhões), segundo o Our World in Data, projeto ligado à Universidade de Oxford.
O país é também o terceiro em vacinas aplicadas por dia (média de 3,27 milhões na última semana), atrás de China (4,06 milhões) e EUA (3,35 milhões). Até fevereiro, a média diária era inferior a 500 mil.
Mas há relatos de falta de doses em vários estados, incluindo Maharashtra, o mais populoso e que tem concentrado o maior número de infectados. Centros de vacinação têm fechado mais cedo e recusam pessoas à medida que os imunizantes acabam.
E o país ainda tem uma vacinação proporcional ainda pequena (8,49 doses a cada 100 habitantes), número muito inferior ao dos EUA (59,30) e menor que o da média mundial (11,04) e até da China (12,75), país mais populoso do mundo.
A vacina de Oxford/AstraZeneca fabricada pelo Instituto Serum responde por mais de 90% das doses já administradas no país.
O governo disse nesta sexta-feira (16) que o país possui cerca de 26,7 milhões de doses em estoque —que, no ritmo de vacinação atual, deve durar cerca de nove dias.
Aumento na produção indiana
Em meio às dificuldades enfrentadas, a Índia se comprometeu nesta sexta-feira (16) a aumentar a produção mensal de sua própria vacina contra a Covid-19, a Covaxin, em cerca de dez vezes.
A Coxavin é produzida por outra fabricante indiana, a Bharat Biotech, e o governo prometeu ampliar a sua produção de 10 milhões por mês para quase 100 milhões de doses até setembro.
O Brasil assinou um contrato para comprar 20 milhões de doses da Covaxin em fevereiro, mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) negou a certificação de boas práticas à Bharat Biotech.
O certificado é requisito obrigatório para o imunizante ser usado no Brasil, o que inviabiliza o seu uso. A Sinovac, que desenvolveu a CoronaVac, a AstraZeneca, responsável pela vacina de Oxford, a Pfizer e a Janssen, que produz a vacina da Johnson & Johnson, já obtiveram o aval da Anvisa.