4 de dezembro de 2024
Magnata imobiliária corre contra o tempo para escapar da pena de morte no Vietnã
Truong My Lan, responsável por uma das maiores fraudes bancárias do país, pode ter a vida poupada se devolver 75% do valor desviado
Por: A Referencia
A empresária vietnamita Truong My Lan, de 68 anos, está no centro de um dos maiores escândalos financeiros já registrados no Vietnã. Condenada à pena de morte em abril deste ano por liderar uma fraude bancária avaliada em US$ 44 bilhões, ela enfrenta agora uma corrida desesperada para reunir fundos e evitar sua execução. As informações são da rede BBC.
O caso, que abala tanto o setor financeiro quanto o governo vietnamita, ganhou destaque não apenas pelos valores envolvidos, mas também pela rara aplicação da pena capital em crimes de colarinho branco. Truong foi acusada de desviar US$ 27 bilhões e de se apropriar indevidamente de US$ 12 bilhões por meio de uma rede de empresas de fachada que controlavam secretamente o Saigon Commercial Bank, o quinto maior banco do país.
Embora seu recurso tenha sido rejeitado esta semana, uma brecha na legislação vietnamita pode salvar sua vida. Se Truong restituir 75% do valor desviado – cerca de US$ 9 bilhões –, sua sentença será comutada para prisão perpétua. Segundo seus advogados, ela está empenhada em levantar os fundos necessários, mas “enfrenta grandes desafios”.
Nascida em uma família sino-vietnamita na cidade de Ho Chi Minh, Truong começou sua trajetória vendendo cosméticos em mercados populares. Após a introdução das reformas econômicas pelo Partido Comunista em 1986, ela iniciou investimentos no setor imobiliário, construindo um império que incluía hotéis, restaurantes e grandes propriedades. No auge de sua carreira, Truong presidia o Van Thinh Phat Group, um dos maiores conglomerados imobiliários do Vietnã.
Porém, sua ascensão meteórica desmoronou quando investigações revelaram a magnitude das fraudes financeiras que ela comandava. O caso também resultou na condenação de outros 85 réus, incluindo familiares de Truong. Enquanto quatro receberam prisão perpétua, os demais enfrentam penas de até 20 anos.
Um sistema que cobra caro
A gravidade dos crimes e a pressão pública colocaram Truong no alvo da campanha anticorrupção “Blazing Furnaces”, liderada pelo ex-secretário-geral do Partido Comunista, Nguyen Phu Trong. No entanto, seu caso também evidencia as complexidades do sistema de justiça vietnamita.
Atualmente, os bens de Truong – mais de mil ativos, incluindo imóveis e participações empresariais – estão congelados pelas autoridades. Entre eles, há propriedades de luxo que poderiam ser vendidas rapidamente, mas a incerteza jurídica dificulta as negociações. “O valor total de seus ativos excede a dívida, mas levará tempo para liquidar esses bens”, explicou o advogado Nguyen Huy Thiep.
A corrida contra o carrasco
Enquanto isso, a sombra da execução paira sobre Truong. No Vietnã, a pena de morte é tratada como segredo de Estado, e as execuções ocorrem sem aviso prévio significativo. Estima-se que mais de mil pessoas estejam no corredor da morte, tornando o país um dos principais executores do mundo.
O tempo agora é o maior inimigo de Truong. Caso consiga reunir os US$ 9 bilhões antes de sua execução, ela poderá evitar o destino que a aguarda. Mas, para isso, depende da venda de ativos, do apoio de amigos e, talvez, de uma intervenção política que permita condições mais favoráveis para liquidar seus bens.