O sono e os sonhos são alvos de grande fascínio dos homens há milhares de anos. Embora saibamos muito pouco sobre as funções do sono, o conhecimento sobre seus mecanismos tem evoluído muito, nos distanciando assim do apelo intuitivo.
Em virtude da complexidade do sono (afeta todas funções do organismo), a melhor forma de identifica-lo é através da observação comportamental. Tendo como a observação comportamental a ferramenta para identificar o sono, podemos dizer que o mesmo é caracterizado pela diminuição ou cessação dos movimentos motores, diminuição da reatividade à estímulos externos, fácil e imediata reversão ao estado de atividade e postura corporal característica. Embora simplista tal ferramenta, é de grande valia para iniciarmos o assunto.
Se deixarmos um pouco de lado a observação comportamental do sono e nos debruçarmos sobre a observação do eletroencefalograma (exame que registra a atividade elétrica do encéfalo) no momento do sono, iremos perceber que o sono pode ser dividido em dois estágios: o sono não-REM (NREM) e o sono REM. A explicação para esses nomes, está na ausência ou presença de movimentos rápidos dos olhos durante o sono: R.E.M. (do inglês: Rapid Eye Movement: “Movimento Rápido dos Olhos”).
Embora o movimento rápido dos olhos seja uma importante ferramenta para estagiar o sono, os pesquisadores utilizam diversas medidas para descrever quantitativamente o sono.
No adulto, a passagem da vigília (acordado) para o sono normalmente se dá para o estágio não-REM, mais precisamente o estágio não-REM 1. Isto mesmo, o sono não-REM ainda é dividido em 3 estágios: não-REM 1, não-REM 2 e não-REM 3.
Durante uma noite de sono, um indivíduo passa pelos três estágios do sono não-REM e pelo sono REM diversas vezes. Cada ciclo dura cerca de noventa minutos.
E o sono REM? Bom, o sono REM (onde temos movimentos rápidos dos olhos) ocupa cerca de 25% do total do tempo de sono e durante esse período podemos apresentar ereção peniana, entramos em atonia muscular e apresentamos diversos outros eventos fásicos ou tônicos. Ou seja, é um período em que nosso organismo realiza diversas atividades. Além das características descritas, é nele onde a maior parte de nossos sonhos são gerados e onde temos sonhos visuais, longos, um pouco emocionais e, em geral, não estão ligados a acontecimentos imediatos do cotidiano do indivíduo que está sonhando.
Ainda não sabemos com clareza porque dormimos e nem tão bem o que é dormir, mas conhecemos as inúmeras funções do sono, como a sua função restaurativa, consolidação da memória, estabilização do humor entre outras inúmeras que poderiam ser pontuadas. Sabemos também dos prejuízos que a privação (seja qual for a causa) do sono pode nos trazer, como, por exemplo, aumento de chance de doenças cardiovasculares, ganho de peso por redução da sensação de saciedade, prejuízos no nosso sistema imunológico, aumento de doenças neuropsiquiátricas, além do aumento de risco de acidentes em atividades que envolvam atenção, como dirigir ou acidentes de trabalho.
O sono normal tem suas variações que não necessariamente configuram um quadro patológico.
Temos variações individuais, ou seja, normalmente um adulto dorme de 6 até 9 horas a cada 24 horas (cerca de 8 horas a cada 24 horas). Temos, porém, os pequenos dormidores que dormem cerca de 4-5 horas e os grandes dormidores que dormem mais que 9 horas a cada 24 horas.
Além das variações individuais relacionadas a quantidade de sono, temos as variações individuais relacionadas a preferência circadiana, ou seja, pessoas que tendem a sentir sono mais cedo e a despertar mais cedo (chamados matutinos) e os que tendem a sentir sono mais tarde e a despertar mais tarde (chamados vespertinos).
A ontogenia (ontogenia se refere ao desenvolvimento do organismo desde origem até o seu completo desenvolvimento) também altera bastante nosso sono, tanto em quantidade e qualidade, e também altera a porcentagem de cada fase do sono durante uma noite do sono. Sabemos que durante as etapas de nossas vidas (recém-nascido, bebê, criança, pré-escolar, escolar, adolescente, adulto jovem, adulto e idoso), a quantidade de sono tende a diminuir, a qualidade do sono tende a piorar no idoso e a porcentagem de cada estágio do sono muda.
É muito importante destacar que cada um deve conhecer seu próprio padrão de sono, para então, conseguir perceber mudanças nesse padrão. Quando identificamos mudanças em nosso padrão de sono, devemos procurar um profissional para uma investigação clínica individualizada. Como já foi mencionado, alterações do sono são fatores de risco para algumas doenças e podem ser sinais de alguma outra doença já instalada. Cabe ao profissional identificar e tratar.
Lucas Alvarez
Médico Psiquiatra
CRM 8378 RQE. 4817
– lucas-alvarez@hotmail.com